quarta-feira, 30 de setembro de 2009

É melhor ter razão do que ter paz?

- E aí, o que você vai fazer no dia que segue a batalha?
- Não sei com quais armas lutar.
- Então porque você não pede uma trégua.
- Porque é desaforo!
- Então vá à luta.
- O que eu queria mesmo é me entregar.
- Então se entrega.
- Mas é desaforo! E depois, se eu não intervir de maneira sábia, tudo pode continuar. E eu quero que mude.
- Então converse sobre isto.
- Eu já conversei. Só que não ouvi o que eu queria. E mesmo que tivesse ouvido, eu não posso me render assim tão fácil.
- Mas se você conversou, esclareceu e tem esperança na mudança, então porque você não termina esta guerra?
- Porque é desaforo, oras!
- É melhor ter razão do que ter paz?
- Não sei...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Violência

Venho falar sobre violência. Não aquela que vemos na televisão, explícita. Mas aquela sutil, que destrói aos poucos, que embora a gente reconheça sua existência, não dá tanta importância. Falo da violência que nos cerca em nossos ambientes de convívio, no trabalho, na família, entre amigos.
A violência a que me refiro nos chega a doses moderadas, em uma palavra, em outra... Em atitudes que alguns justificam como falta de paciência, outros chamam de estresse... Não falo da agressão física, aliás, este é apenas o último estágio da violência, e quando chega vem pra dizer que muita coisa está perdida: a delicadeza, o amor, a decência, o respeito, a paz.
Não sou vítima desta violência diária. Mas ela me atinge, acontece comigo e contra mim. Digo que não sou vítima porque acredito que tudo o que nos acomete é de nossa responsabilidade, por provocarmos, ou por permitirmos. A diferença é que agora que a violência se fez explícita, eu venho refletir sobre esta permissão, e penso no que posso fazer para não deixá-la me atingir e para que eu não faça o mesmo.
Na vontade de perdoá-la (a violência) busquei respostas que justificassem seu ato. Nesta busca me deparei com a paisagem de uma de nossas noites felizes: enquanto dançávamos de rosto colado éramos fotografados por amigos que pareciam fazer aquilo não apenas por brincadeira: pareciam saber que aquilo poderia salvar algo. E de certa forma salvou. Não sei dizer o que, mas serviu de escudo a uns sentimentos bons que moram em mim, embora outros não tenham sobrevivido. Hoje olhei para foto e de lá de dentro a imagem me disse: "minha filha, nada disso vale a pena..." (eu sei que a imagem quis dizer a respeito das ávidas partilhas, das lutas, dos esforços, da entrega), e reconheço que nada vale a pena para quem fere nosso respeito, nossa ética e nosso brio, mas hoje eu insisti em ficar folheando esse álbum para ir além dos meus pensamentos... No fundo eu queria mergulhar em algo que não me falasse de nada, que só me deixasse em contato com o silêncio, a ignorância. Queria me livrar dos discursos, das mentiras, dos elogios, das celebrações, das desculpas.
Não sei se isto acontece com todos, mas às vezes tenho vontade de me dispor a mercê da vida, de me despir dos meus sonhos de querer um pouco mais, de montepio, benevolências. Eu queria entrar na chuva, andar nas nuvens, voar pelo deserto amarelo, e não sentir nada além do vento que leva tudo sem precisar de água, nem de areia, nem de flor, nem de gente. Queria seguir em frente de mãos vazias, sem lembranças.