quarta-feira, 19 de maio de 2010

Resposta à Carol...

Antes de mais nada quero dizer que você é linda na alegria e na tristeza (rsrsrs), na sabedoria e no desespero, no amor e na dúvida, te admiro acima de todos os sentimentos... digo isto porque achei belíssimo seu desabafo no e-mail. Você falou que tem achado que gosta de sofrer, e entre este e outros dizeres você escreveu um texto denso, pungente, e lindo. Me identifico com a parte do sofrimento, não por gostar de senti-lo, mas por precisar sentir. Ele (o "sofrer") é inspirador, por fazer nascer o entusiasmo criador. Você sabe, a dor - motivação dos poetas - nos leva a uma atitude de recolhimento, de introspecção, e de transcendência muitas vezes. Não tem como não gostar disto, não tem como não ver o lado bom, não tem como não achar lindo. Por não ter como não ver como um caminho, é que eu te digo que deve aceitar o sentimento, viver este processo... pare de lutar, e viva! Deixe que a angustia expresse livremente suas buscas, pois ela só é perturbadora quando a gente luta contra. Vou até citar Fernando Pessoa: "tudo que agora sinto está em mim pensando". Esta é uma síntese poética da indissolúvel ressonância que se opera entre o sentir e o pensar em nosso coração e mente.
Carol, sua dor é amiga da minha, por nossos motivos serem os mesmos. Mas eu fiquei melhor depois que aceitei algumas coisas e pratiquei outras. Coisas minhas. Eu entendi que não posso viver sacrificando meu presente na esperança de um futuro melhor. Nesta espera, a cada dia fui me distanciando mais de mim mesma, e isto me roubou energia, vaidade, amor próprio. Cansei. Aliás, bem lembrado por Karina Buhr na canção: "esperança cansa".
Além de me distanciar de mim mesma, também não sabia o que eu queria exatamente pra mim, mas eu sempre soube que se fizer as mesmas coisas, terei continuamente os mesmos resultados. Então fiz uma reflexão contrária em relação ao meu casamento, e comecei a avaliar o que eu não queria pra mim. Nesta reflexão, encontrei muitas coisas (sentimentos, situações) que eu vivia e que definitivamente eu não quero pra mim. Acredito que o casamento deve ser um relacionamento potencialmente enriquecedor e que numerosos problemas desenvolvem-se quando tentamos satisfazer as expectativas do outro. Um casamento efetuado com expectativas é instável e pouco recompensador. Acredito também que a maioria das nossas angústias acometem-nos porque não conseguimos ficar sozinhos. Precisamos ser capazes de estarmos sós, de outra forma somos apenas vítimas. Quando somos capazes de estarmos sós, percebemos que a única coisa a fazer é iniciarmos um novo relacionamento com o outro – ou até o mesmo – ser humano. E é isto o que eu vou fazer agora. Não vou apenas "descasar", vou iniciar uma nova história, mais bonita talvez. Se não mais bonita, seguramente mais leve.
Sobre a vida de solteira, certamente trás como vantagem os tais vôos inimagináveis, além de novos sabores, novas cores e novos cheiros. Novos problemas também (é sempre bom diversificar) rsrsrs.
A respeito de você ter sido criada para ser princesa, comigo foi um pouco diferente. Cresci com a promessa de que o mundo adulto seria um lugar mais fácil, porque eu poderia escolher, porque eu não dependeria de uma relação que me deixava de mãos atadas, submetida a palavras de humilhação, de depreciação (falo em relação aos meus pais), e eu acreditei... Por conta disto corri atrás deste mundo cedo demais, e até hoje procuro um lugar de descanso, que nunca encontrei. Nunca. Lembro-me de que um dia em conversa com a Guacira, num momento em que nossa relação passava do estágio do terapêutico para o da amizade, ela me disse exatamente isto: “eu sinto vontade de falar umas verdades para as pessoas que fizeram você crescer acreditando que teria paz se fosse uma adulta consciente, responsável, honesta e decente”. Depois que nos tornamos amigas, ela sempre me dizia que não adiantava eu fazer minha parte na expectativa de o mundo ver o quanto eu sou boa gente, o quanto sou capaz de ser altruísta, o quanto sou capaz de perdoar, de compreender, de estender as mãos. Todas as vezes em que me doei foi na esperança de ser reconhecida, mais do que isto, de ser amada, de ser cuidada na mesma medida com a qual eu cuido e de ser aceita, com todas as minhas variações e limitações. Infelizmente não consegui. Ninguém consegue. E pior, com o tempo a gente descobre nas pessoas do nosso convívio (aquelas a quem amamos), coisas opostas ao que sonhamos para nós, como a tal frieza que você nunca notara no seu companheiro. Mas você tem que considerar que talvez seja uma fase e que ele tem muito mais qualidades do que defeitos. O que você precisa saber é se quer viver a vida que pode ser construída ao lado dele. Você quer viver ao lado dele com o que ele tem para te oferecer? Veja bem, perguntei com o que ele tem e não com o que você gostaria que ele tivesse. Pense por este lado. Aceite ou assuma uma nova atitude. Em qualquer momento podemos começar a agir diferente e refazer o caminho da autoconstrução.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Diário

Quatro de maio foi um daqueles péssimos dias, em que a necessidade de mudar cobra, exige uma atitude, fazendo fervilhar os neurônios, os hormônios, os fluídos do corpo todo, a espera de um “não sei o quê”... Acho que a espera é de um parto. Parto como substantivo e verbo, pois é preciso muito amor, consciência, coragem e maturidade para conseguir quebrar o ovo e nascer como pessoa verdadeira... e um dia é preciso parar de planejar e, de algum modo, partir.
A isto se somam inúmeros questionamentos, como estes: o que leva uma pessoa a continuar na mesma (Vida? História? Rotina?), quando sabe exatamente que não é o melhor para si, tem certeza absoluta do que não quer para sua vida, e possui todas as condições para mudar. O que acontece com a porra da atitude que não se realiza? Para responder a estas e tantas outras questões (rsrsrsrs) decidi fazer a partir do dia 04/05/10 uma espécie de diário, onde eu descreveria pelo menos uma situação ou sentimento relacionado ao dia e à minha condição de “casada”. O objetivo é apenas olhar para os meus dias e medir o lado bom e o ruim de estar casada com o ser em questão. Não que eu tenha dúvidas sobre o que pesa mais, acontece que alivia quando registro e também me organizo e compreendo melhor o que acontece comigo.
Confesso que foi forçada (pelo meu lado que ainda está sano) que eu escrevi sobre os primeiros dias, escrevi de qualquer jeito. Mas agora eu decidi levar a sério e vou até postar no blog, a começar de um apanhado geral destes dias de desleixo:
05/05/10 - cheguei do trabalho, e ele tava lá com aquela mesma cara de sempre (que me angustia). Trocamos poucas palavras, ele jogou o controle da televisão com toda a força no chão até partir em vários pedaços, porque o controle não funcionou. Deitamos na mesma cama, ele não me fez um carinho, não me beijou. Enquanto dormíamos, só me abraçou durante poucos 5 minutos, porque eu tomei iniciativa. De manhã saiu para trabalhar sem ao menos dizer tchau.
06/05/10 - Foi ameno (menos grosso) ao atender minhas ligações, mas isto não significa que tenha sido atencioso e nem que tenha se mostrado feliz por conversar comigo. Quando chegou do trabalho, claro que não me beijou, aliás, nem oi ele falou. Não que tivéssemos brigado, este é o modo costumeiro de ele me tratar. E assim foi até amanhecermos hoje, sem um beijo, sem um carinho. Eu tento com todas as minhas forças não cobrar o cuidado, a atenção que eu tanto sinto falta, mas não tenho conseguido. Hoje cedo disse a ele: “todo ser humano precisa se sentir desejado, amado e seguro”. Além disso, disse que melhor seria se fossemos amigos e ficássemos de vez em quando (isto é consolo para mim), pelo menos eu não me sentiria tão rejeitada ao lado dele. Ele comprou um controle novo pra TV.
10/05/10 - Nada melhorou. Fomos viajar, e até que não brigamos, segundo ele porque ele conseguiu se controlar, pois se dependesse de mim tínhamos brigado. Eu vejo como o completo oposto, pois venho abrindo mão de mim mesma em troca de paz. Pra dizer que não houve beijo, houve um selinho, mais nada. Ah, houve também duas danças, que foram ótimas, mas agora me sinto péssima porque perante todos ficou claro que ele agia como se fizesse um favor em dançar comigo. Semelhante foi quando apontei um casal da terceira idade que pegavam nas mãos e ele respondeu: “quer que eu pegue na sua mão para satisfazer seu ego?”. Fora isto eu contei como algo de muita relevância ele ter ficado bastante tempo no almoço com a minha família.
11/05/10 - Fui abraçá-lo quando cheguei do serviço ele se esquivou. Reclamou de dor no nariz. Pedi uma massagem ele disse que não. Convidei-o para me assistir palestrando e ele disse que não. Pior: disse que vai fazer uma cirurgia, precisa de um acompanhante e convidou um amigo (que eu não sei nem o nome) para dormir com ele, só porque não quer ter que fazer o mesmo por mim em um futuro qualquer.
12/05/10 - Levei um filme para assistirmos juntos, um filme que falava de amor, de superação, pensei que seria bom se assistíssemos, mas não consegui. O pouco caso dele foi de uma insensibilidade tão grande que eu desisti e fui dormir com tanto ódio de mim por insistir em fazer algo com ele que o meu peito doeu a noite toda.
Então, meus dias são assim, não tenho mais nada para falar. Depois que li este texto perdi até a fome que estava enorme minutos atrás...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tenho cérebro, mas me falta o fígado...

Eu poderia dizer também: tenho cérebro, mas não “entranhas“. Só preferi o fígado (órgão que na Grécia Antiga era sinônimo de coragem) porque ele é o órgão mais sensível do meu organismo (piadas à parte... não me perguntem o porquê). Claro que esta analogia serve só para poetizar o fato de que não adianta ter inteligência se perdemos a conexão com a profundidade dentro de nós, o que nos impede de sentir a escolha certa. “Muitas pessoas”  vivem a vida inteira negando o óbvio, por estarem assustadas demais, perdem a fé na vida e em si e engolem a mordida amarga da existência. O tempo passa, a idade aumenta os medos. Possivelmente ficamos mais maduros, mas também sem experiência prática de pular no escuro e acreditar que podemos sobreviver.
Então passamos a machucar o fígado (rsrsrs) e “amantados” por raciocínio justificamos qualquer coisa. Com “boas razões” cobre-se a simples falta de peito para encarar a única escolha decente que se tem na vida. Acostumados a “fechar os olhos”, chegamos a não abri-los mais (“De que adianta, afinal, se não podemos dizer o que pensamos? Tanto vale não ver.”).
É claro que estou falando de relacionamentos... Justifico: se racionalmente mantemos os nossos valores, na prática, o que acontece é que devemos calar o que realmente pensamos porque simplesmente ou calamos ou nos mandamos da relação. Ponto. Cala um dia, cala dois dias, cala três meses, cala quatro anos… no que vai dar isso? Por mais boa vontade que se tenha, é psicologicamente impossível não tornar-se cúmplices daquilo que rejeitaríamos se não houvesse vínculos - a convivência é o maior elemento de “convencimento” de uma pessoa.
Para mim, a opção mais certa é afastar-se, muito ou pouco (o que não significa necessariamente sumir). Manter distância é uma forma de dizer “discordo”. Infelizmente, às vezes é o único jeito de comunicar o que pensamos – é o que faz com que a pessoa em questão recorde que há outros mundos, outros valores e outras possíveis escolhas de vida. Nossa voz é fraca quando o pecado está encardido demais. Mas tranqüilo, desde que conscientemente e racionalmente  saibamos que não tem como não sermos afetados pelo convívio com outras pessoas, e que (con)viver é uma escolha nossa – escolha que fazemos, claro, com todas as razões do MUNDO, e causas nobres, como a de amar alguém que seria melhor perder que encontrar.
Aqui entra o fígado: por razões totalmente hipócritas, eu encharco de afetuosidade a máquina da relação para passar por situações difíceis... e quanto mais espinhosa for a realidade mais eu utilizo deste método para suavizar com os óleos aromáticos da sedução afetiva o ambiente duvidoso no qual eu deito confortavelmente. E sei que não será assim que terei coragem para dar nomes aos bois e reconhecer o que é errado, nem é assim que terei atrevimento para agir de acordo. Antes, preciso da força viril de saber enfiar a faca quando é preciso, porque há momentos em que uma cirurgia é a única salvação. Óleos aromáticos não vão poder tratar do que simplesmente é podre.