Antes de mais nada quero dizer que você é linda na alegria e na tristeza (rsrsrs), na sabedoria e no desespero, no amor e na dúvida, te admiro acima de todos os sentimentos... digo isto porque achei belíssimo seu desabafo no e-mail. Você falou que tem achado que gosta de sofrer, e entre este e outros dizeres você escreveu um texto denso, pungente, e lindo. Me identifico com a parte do sofrimento, não por gostar de senti-lo, mas por precisar sentir. Ele (o "sofrer") é inspirador, por fazer nascer o entusiasmo criador. Você sabe, a dor - motivação dos poetas - nos leva a uma atitude de recolhimento, de introspecção, e de transcendência muitas vezes. Não tem como não gostar disto, não tem como não ver o lado bom, não tem como não achar lindo. Por não ter como não ver como um caminho, é que eu te digo que deve aceitar o sentimento, viver este processo... pare de lutar, e viva! Deixe que a angustia expresse livremente suas buscas, pois ela só é perturbadora quando a gente luta contra. Vou até citar Fernando Pessoa: "tudo que agora sinto está em mim pensando". Esta é uma síntese poética da indissolúvel ressonância que se opera entre o sentir e o pensar em nosso coração e mente.
Carol, sua dor é amiga da minha, por nossos motivos serem os mesmos. Mas eu fiquei melhor depois que aceitei algumas coisas e pratiquei outras. Coisas minhas. Eu entendi que não posso viver sacrificando meu presente na esperança de um futuro melhor. Nesta espera, a cada dia fui me distanciando mais de mim mesma, e isto me roubou energia, vaidade, amor próprio. Cansei. Aliás, bem lembrado por Karina Buhr na canção: "esperança cansa".
Além de me distanciar de mim mesma, também não sabia o que eu queria exatamente pra mim, mas eu sempre soube que se fizer as mesmas coisas, terei continuamente os mesmos resultados. Então fiz uma reflexão contrária em relação ao meu casamento, e comecei a avaliar o que eu não queria pra mim. Nesta reflexão, encontrei muitas coisas (sentimentos, situações) que eu vivia e que definitivamente eu não quero pra mim. Acredito que o casamento deve ser um relacionamento potencialmente enriquecedor e que numerosos problemas desenvolvem-se quando tentamos satisfazer as expectativas do outro. Um casamento efetuado com expectativas é instável e pouco recompensador. Acredito também que a maioria das nossas angústias acometem-nos porque não conseguimos ficar sozinhos. Precisamos ser capazes de estarmos sós, de outra forma somos apenas vítimas. Quando somos capazes de estarmos sós, percebemos que a única coisa a fazer é iniciarmos um novo relacionamento com o outro – ou até o mesmo – ser humano. E é isto o que eu vou fazer agora. Não vou apenas "descasar", vou iniciar uma nova história, mais bonita talvez. Se não mais bonita, seguramente mais leve.
Sobre a vida de solteira, certamente trás como vantagem os tais vôos inimagináveis, além de novos sabores, novas cores e novos cheiros. Novos problemas também (é sempre bom diversificar) rsrsrs.
A respeito de você ter sido criada para ser princesa, comigo foi um pouco diferente. Cresci com a promessa de que o mundo adulto seria um lugar mais fácil, porque eu poderia escolher, porque eu não dependeria de uma relação que me deixava de mãos atadas, submetida a palavras de humilhação, de depreciação (falo em relação aos meus pais), e eu acreditei... Por conta disto corri atrás deste mundo cedo demais, e até hoje procuro um lugar de descanso, que nunca encontrei. Nunca. Lembro-me de que um dia em conversa com a Guacira, num momento em que nossa relação passava do estágio do terapêutico para o da amizade, ela me disse exatamente isto: “eu sinto vontade de falar umas verdades para as pessoas que fizeram você crescer acreditando que teria paz se fosse uma adulta consciente, responsável, honesta e decente”. Depois que nos tornamos amigas, ela sempre me dizia que não adiantava eu fazer minha parte na expectativa de o mundo ver o quanto eu sou boa gente, o quanto sou capaz de ser altruísta, o quanto sou capaz de perdoar, de compreender, de estender as mãos. Todas as vezes em que me doei foi na esperança de ser reconhecida, mais do que isto, de ser amada, de ser cuidada na mesma medida com a qual eu cuido e de ser aceita, com todas as minhas variações e limitações. Infelizmente não consegui. Ninguém consegue. E pior, com o tempo a gente descobre nas pessoas do nosso convívio (aquelas a quem amamos), coisas opostas ao que sonhamos para nós, como a tal frieza que você nunca notara no seu companheiro. Mas você tem que considerar que talvez seja uma fase e que ele tem muito mais qualidades do que defeitos. O que você precisa saber é se quer viver a vida que pode ser construída ao lado dele. Você quer viver ao lado dele com o que ele tem para te oferecer? Veja bem, perguntei com o que ele tem e não com o que você gostaria que ele tivesse. Pense por este lado. Aceite ou assuma uma nova atitude. Em qualquer momento podemos começar a agir diferente e refazer o caminho da autoconstrução.
Carol, sua dor é amiga da minha, por nossos motivos serem os mesmos. Mas eu fiquei melhor depois que aceitei algumas coisas e pratiquei outras. Coisas minhas. Eu entendi que não posso viver sacrificando meu presente na esperança de um futuro melhor. Nesta espera, a cada dia fui me distanciando mais de mim mesma, e isto me roubou energia, vaidade, amor próprio. Cansei. Aliás, bem lembrado por Karina Buhr na canção: "esperança cansa".
Além de me distanciar de mim mesma, também não sabia o que eu queria exatamente pra mim, mas eu sempre soube que se fizer as mesmas coisas, terei continuamente os mesmos resultados. Então fiz uma reflexão contrária em relação ao meu casamento, e comecei a avaliar o que eu não queria pra mim. Nesta reflexão, encontrei muitas coisas (sentimentos, situações) que eu vivia e que definitivamente eu não quero pra mim. Acredito que o casamento deve ser um relacionamento potencialmente enriquecedor e que numerosos problemas desenvolvem-se quando tentamos satisfazer as expectativas do outro. Um casamento efetuado com expectativas é instável e pouco recompensador. Acredito também que a maioria das nossas angústias acometem-nos porque não conseguimos ficar sozinhos. Precisamos ser capazes de estarmos sós, de outra forma somos apenas vítimas. Quando somos capazes de estarmos sós, percebemos que a única coisa a fazer é iniciarmos um novo relacionamento com o outro – ou até o mesmo – ser humano. E é isto o que eu vou fazer agora. Não vou apenas "descasar", vou iniciar uma nova história, mais bonita talvez. Se não mais bonita, seguramente mais leve.
Sobre a vida de solteira, certamente trás como vantagem os tais vôos inimagináveis, além de novos sabores, novas cores e novos cheiros. Novos problemas também (é sempre bom diversificar) rsrsrs.
A respeito de você ter sido criada para ser princesa, comigo foi um pouco diferente. Cresci com a promessa de que o mundo adulto seria um lugar mais fácil, porque eu poderia escolher, porque eu não dependeria de uma relação que me deixava de mãos atadas, submetida a palavras de humilhação, de depreciação (falo em relação aos meus pais), e eu acreditei... Por conta disto corri atrás deste mundo cedo demais, e até hoje procuro um lugar de descanso, que nunca encontrei. Nunca. Lembro-me de que um dia em conversa com a Guacira, num momento em que nossa relação passava do estágio do terapêutico para o da amizade, ela me disse exatamente isto: “eu sinto vontade de falar umas verdades para as pessoas que fizeram você crescer acreditando que teria paz se fosse uma adulta consciente, responsável, honesta e decente”. Depois que nos tornamos amigas, ela sempre me dizia que não adiantava eu fazer minha parte na expectativa de o mundo ver o quanto eu sou boa gente, o quanto sou capaz de ser altruísta, o quanto sou capaz de perdoar, de compreender, de estender as mãos. Todas as vezes em que me doei foi na esperança de ser reconhecida, mais do que isto, de ser amada, de ser cuidada na mesma medida com a qual eu cuido e de ser aceita, com todas as minhas variações e limitações. Infelizmente não consegui. Ninguém consegue. E pior, com o tempo a gente descobre nas pessoas do nosso convívio (aquelas a quem amamos), coisas opostas ao que sonhamos para nós, como a tal frieza que você nunca notara no seu companheiro. Mas você tem que considerar que talvez seja uma fase e que ele tem muito mais qualidades do que defeitos. O que você precisa saber é se quer viver a vida que pode ser construída ao lado dele. Você quer viver ao lado dele com o que ele tem para te oferecer? Veja bem, perguntei com o que ele tem e não com o que você gostaria que ele tivesse. Pense por este lado. Aceite ou assuma uma nova atitude. Em qualquer momento podemos começar a agir diferente e refazer o caminho da autoconstrução.