quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

E que venha 2011...

O ano chega ao final, afinal tudo chega... E por falar em final, to ficando boa nisto de lidar com “finais” e já aprendi, inclusive, a tratar os finais com carinho, já que se trata sempre possibilidade de um novo começo. E neste caso é o começo de um novo ano.
Termino o ano com aquela sensação de sempre: a de ter feito o que eu deveria fazer. A maneira como me relaciono com as minhas vivencias invariavelmente reforça o meu sentimento de certeza perante minhas escolhas. Talvez seja porque eu tenha esta coisa chamada consciência. O problema, às vezes, está em eu ter outras coisas, chamadas: coração, estomago, fígado, vísceras. Eu penso demais e sinto demais. Em mim o instante dura, eu vivo num presente incessante. Pura duração. E é isto que às vezes me rouba a energia que eu deveria empregar nos meus projetos, nos meus objetivos. É isto o que me faz, muitas vezes, ser mais sentimental que prática. E quando eu falo em projetos e objetivos, não me refiro a coisas grandes. Eu não acredito em grandes projetos quando o assunto é evolução humana. E o meu objetivo é a evolução humana: a minha. Eu acredito em coisas moleculares. Mas mesmo sendo pequenas, as coisas, “o tudo” não deixa de ser intenso pra mim. Eu me permito ser possuída pelas coisas. Mas eu permito também que as coisas acabem, e da mesma forma (com a mesma magnitude) que eu as sinto nascendo, crescendo, eu as sinto morrer também. E a morte não é fácil sentir. A morte é o nascimento pelo avesso, como uma fotografia no negativo, onde tudo é igualzinho só que ao contrário. A sensação da morte é como a de uma água descendo pelo ralo com muita força.
Mas como eu já disse várias vezes: eu quero sentir tudo. Estou viva porque há uma excitação que me percorre. A vida vibra em mim em cada célula. A vida é isto: contrair e expandir. Receber e deixar ir. Sinto muito pelos os que não permitem que isto aconteça. Como se viver os sentimentos fizesse a gente morrer rápido. Então as pessoas contêm. Guarda a vida. Como se guardando ela fosse durar mais.
É mais ou menos isto: estou preparada para contrair e expandir em 2011. E começo com algumas prioridades (objetivas e subjetivas), sendo que umas são urgentes, e outras complexas demais para que eu possa garantir aqui plena execução. Espero me perdoar caso eu não consiga cumprir tudo o que me proponho, mas isto não é um pedido de desculpa adiantado, ao contrário: isto é só porque já me convenci de que o tempo não se curva e de que nada resolve lidar com o tempo como algo objetivo, que está aí para ser organizado e manipulado, longe disto, eu parei de lutar contra o tempo. Hoje só exerço instantes. Com isto eu ganho presença...
Mas como a praticidade também não é algo que podemos negligenciar, descrevo, enfim, as minhas prioridades, que giram em torno do que assoalho a seguir:

Prioridades Objetivas:

• Parar de fumar.
• Guardar dinheiro.
• Aprender a tocar violão.
• Estudar inglês.
• Entrar no mestrado.
• Profissionalmente fazer o que me agrega sentido.
• Manter meu peso entre 53 e 54 kilos.
• Cuidar da minha vaidade e aparência.

Prioridades Subjetivas:

• Cuidar da minha vida social.
• Desenvolver as seguintes qualidades positivas:
Aparelhar o tempo.
Confiar na intuição.
Focar na espiritualidade.

• Trabalhar as seguintes qualidades negativas:
Egoísmo.
Mentira.
Timidez / insegurança.
Supervalorização / baixa valorização.
Ansiedade
Impulsividade.
Carência.

Poucas ressalvas a respeito de alguns itens:
A questão do egoísmo se esbarra com a necessidade de manter a minha alteridade (e respeitar a do outro também, claro). Espero encontrar um equilíbrio, já que não vou abrir mão de atender primeiramente – e sempre – o meu universo particular. Todos sabem que sou altruísta, mas que também não me anulo para satisfazer as necessidades de alguém. Da mesma forma, não cobrarei do outro que tente decodificar as minhas.
Sobre aparelhar o tempo. Quero deixar claro (pra mim mesma) que falo do tempo imaginário, porque o tempo do mundo sério já é bem organizado. Vou explicar: existe o tempo do mundo sério e o tempo imaginário: no mundo ‘sério’ podem ser 11 horas da manhã, em tal e tal dia, mês e ano, mas no universo particular em que estamos pode ser a terceira volta, o quarto ato, o movimento allegro ou o segundo beijo. Quero dizer então que preciso definir minhas prioridades e organizar meu tempo subjetivo para realizá-las, porque o meu problema é o excesso de “fazer”, é querer fazer tudo de uma vez, é estabelecer metas extremistas, que me roubam momentos de lazer, de ludicidade, e que me deixam presa no mundo sério. Aliás, a seriedade é uma característica da qual me livrei a pouco tempo, e corro o sério risco de retomá-la.
Em relação a minha vida social, preciso me aproximar mais dos familiares. Não de todos, obviamente, até porque não faço questão alguma de conviver com certas pessoas. Alias, já evolui bastante neste quesito, porém ainda preciso estar mais presente. Já com os amigos, está tudo certo, tudo como eu gosto e acho que deve ser. Só gostaria que eles respeitassem mais os meus “nãos” quando me nego a vida noturna. Definitivamente não gosto da vida noturna... não sei o porquê, mas sinto que isto de boates, baladas na madrugada, etc. é coisa de gente triste.
De tudo, o mais difícil será parar de fumar, mas sob a ótica da minha jornada maior, vale muito a pena realizar este sacrifício.
No mais, é só colocar a mão na massa e dar vazão. Deixar vazar, não prender nada. Nada calcificar. Vida boa é vida líquida, escorrendo. Vida é sentimento derretido. Sentimento endurecido é tumor. Ser humano de verdade é pessoa derretida. Pessoa endurecida é tumor. Eu quero tudo que se movimente em mim, eu quero tudo que me escorra, que tome meu corpo, que tome minha alma, para que só depois a tal consciência entre em cena, apenas para me lembrar que há vida em mim.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tem dias que – como hoje - eu não vejo a hora que acabe para amanhã ser um novo dia... tem dias que eu não me basto... tem dias que eu não caibo dentro de mim! Nestes dias eu peço a Deus que me salve de mim mesma, que me salve da autocobrança (exacerbada) pelas tentativas falidas, que me salve dos insistentes erros. E Deus tem me salvado. Mas eu tenho muito a fazer por mim mesma, tenho que desenvolver virtudes que me ajudem a aproveitar os acontecimentos que virão – os bons e os ruins – para que eu não me torne tão insensível por conta do pesar. A invulnerabilidade tem isto de nos tornar inatingível. Não quero ser vulnerável, mas também não quero deixar de sentir.

Estou meio anestesiada... qualquer espécie de sentimento já não me toca como antes. Ultimamente o verbo que eu tenho mais conjugado é FAZER – FAZER - FAZER. Tenho colocado o fazer acima de tudo e de todos os sentimentos. Tenho lidado bem com qualquer situação que me atinja no peito (a vida tem destas de pular com os dois pés no meu peito de vez em quando - e eu tenho destas de nunca cair), e o problema é que o excesso de força tem me tornado uma pessoa esnobe, e eu tenho me supervalorizado em relação a muitas coisas, a ponto de não aceitar as lágrimas de ninguém como argumento.

Não sei se é bom o fato de eu nunca me desmanchar, de sempre dar conta do que eu sinto, sempre estar pronta para receber o não, para receber o absurdo, as carências todas, enfim. Tenho feito tantas coisas que resta pouco tempo para sentir, e eu quero sentir tudo. Sentir é um verbo que se conjuga pra dentro, diferente de fazer, que é conjugado pra fora. Sentir alimenta, ensina, aquieta. Fazer é muito barulhento. Por isto sentir mais será uma das minhas metas para 2011, quero que venham todas as paixões, todos os medos, todos os êxtases, toda paz, tudo... Acho que foi Vinícius quem disse: “não quero ser feliz, eu quero viver”. E eu quero isto também.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

E eu que achei que havia superado...

“Você se irrita com a burrice alheia?”.
Tudo partiu desta pergunta, que fiz a um amigo. Não sei de onde surgiu a pergunta, nem se foi feita exatamente desta maneira. Lembro apenas que a resposta foi bem relativizada, mas convincente. Ele disse que se a pessoa se esforça, tenta compreender algo, enfim, ele não se irrita. Mas se a pessoa é cabeça dura, aí sim é complicado. E por falar em complicado, vale ressalvar que nos dias de hoje virou vício as pessoas utilizarem esta palavra quando não sabem o que dizer. Mas faz sentido. Aliás, a simplicidade é um estado que pertence apenas às crianças (pequenas e bem criadas, hoje nem isso podemos generalizar) e aos sábios (espécie rara). No começo e no fim do novelo, o fio é solto e linear. No meio é uma “complicação” só.
Bom... feita a ressalva, é importante dizer que concordei com a resposta dele. Agi como se pensasse igual. Na verdade penso igual. O difícil é sentir igual. Se bem que, em relação a burrice alheia, eu já tinha melhorado bastante (até em sentimento). De uns tempos pra cá tenho me gabado por ter evoluído em relação a compreensão do outro, o livramento de preconceitos, a flexibilidade diante do diferente, e diante do absurdo, principalmente. E quando falo que me gabo não é exagero, muitas vezes chego até a ser soberba. Mas... como sempre disse minha amada vózinha: “a gente paga a língua”.
Pois é, esta semana perdi a linha com uma destas pessoas insuportavelmente burras. Um tal cidadão que eu não agüento mais nem ouvir a voz e que trabalha comigo. Ele é gente boa e tudo, é gentil, educado. O problema é que é beeeeeeeem burro.
Deus que me perdoe!
Eu não sou a inteligência em pessoa, ao contrário, às vezes até descambo com meus extremismos. Mas tem gente que abusa. Não estou nem falando dos acometidos por crises de burrice súbita, como Aldo Rebelo e os 13 congressistas que aprovaram o novo código florestal e de repente palavras como biodiversidade, manancial, vida futura, não significavam mais nada pra eles. Também não estou falando de pessoas como a Marina Silva que, embora historiadora, fica parecendo uma louca quando discursa como se fosse uma porta voz de um Deus antigo, que para se comunicar com os fiéis utiliza a figura dela, e com isto declara-se publicamente contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo, usando argumentos baseados nessa mitologia... Eu até admito este tipo de burrice... desde que fique longe de mim...
O problema é quando o portador de burrice crônica senta do lado da minha mesa de trabalho. Antes eu achava que burrice contaminava. Hoje não. Agora acho que a burrice é uma doença progressiva, incurável e fatal. Como a dependência química, sabe... Ah, e é cega também! Porque a inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda... quando eu tiver inteligência suficiente vou desenvolver uma teoria sobre isto.
Mas voltando ao cidadão obstruído pela inépcia absoluta... O pior é que ele enche o peito e me fala: “temos que ser práticos”! Ele fala cheio de razão, é incrível! Fala como se a inteligência prática subsistisse incólume ao emburrecimento geral, como se inteligência fosse um adorno a ser acrescentado ao sucesso depois de resolvidos todos os problemas. De fato, a prova mais evidente da burrice torpe é o sujeito nem se dar conta dela.
O tal cidadão me irrita não só porque empaca meus afazeres de trabalho, mas porque rouba meu precioso tempo na insistência de trocar comigo conversas que não evolui filosoficamente, baseadas em um roteiro maniqueísta e machista (acho que ele cresceu com um bando de mulheres idiotizadas). E pra fechar com chave de ouro, ele se faz de bonzinho e sensatinho, como muitos com pinta de herói que luta pelo bem-estar, pela liberdade das mocinhas aprisionadas… Aff, odeio estes machos que se engalfinham pra provocar gratidão, admiração e tesão nas fêmeas.
Concordo com Nietzsche que somos felizes apenas na ignorância. E tenho uma boa notícia aos que torcem pela minha felicidade: ano que vem vou tentar ser uma pessoa normal. Eu gostaria muito de ser feliz por pintar meu cabelo de loiro, colocar silicone e botox , fazer dieta, não ter celulite ou rugas, e malhar assistindo Sex and the city, reality shows, Ana Maria Braga, Pânico ou novela de TV... Pois é gente, mas ano que vem vou tentar chegar perto disto, é uma das minhas metas ser uma mulher elegante (preciso apenas aprender como que faz isto), uma cidadã comprometida com o bem geral da nação, uma pessoa que ganha dinheiro, etc, etc, etc...
... NÃO APLAUDAM AINDA....
Porque antes de tudo isto eu preciso de um doutor que ainda pratique a lobotomia... sofro demais por ser eu. Perdi o senso do que é ser mulher. Que roupa usar? Qual o tamanho (e o modelo) certo da bolsa que tenho que usar para ir à praia, e qual devo usar para ir ao MC’Donalds? Pois é, sou burra pra estas coisas, não sei nem ser mulher e fico criticando o idiota que senta do meu lado. Mas é que infelicidade pra mim não é não conseguir escolher qual bolsa usar, mas não ter condições de concluir as incoerências da vida…
Então vamos a uma conclusão coerente: agradeço aos ignorantes por me levarem a um estado de sucessivas perguntas; e aos inteligentes, por atiçarem em mim problemas em relação aos quais minha própria curiosidade vacila.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mudei de assunto na vida, todos sabem. Infeliz ironia: terei que mudar de assunto na minha pesquisa de mestrado também...
Me preparo há uns quatro anos para entrar no mestrado, é um preparo que envolve mais meu amadurecimento pessoal do que técnico. A dificuldade técnica, em si, já não é problema, passei até na prova de inglês, que eu achava o mais difícil. A entrada na USP também já não é problema, tenho uma orientadora que foi com a minha cara, enfim, tudo parecia perfeito... Mas, como nada foi fácil pra mim, não seria diferente agora. Aconteceu que a abençoada orientadora que me acolheu (com carinho, inclusive), disse sem o menor senso de compaixão: “olha, entendo sua posição teórica, mas eu não conheço Carl Rogers, preciso que você se fundamente em Winnicott. Você precisa entender que não é você quem escolhe a pesquisa, ela é quem te escolhe!!!!!!!!!!!”.
O número de exclamações não traduz minha indignação. Pra quem lê isto pode parecer problema pequeno, mas não é. E isto tem a ver com o tal amadurecimento que eu busco alcançar para entrar no mestrado. Por algum momento eu pensei que eu poderia falar sobre a educação, sobre minha paixão por Carl Rogers, sobre a temática da autonomia e da autogestão que tanto me excita e estimula. Mas eu terei que abrir mão... e isto não é tarefa fácil, principalmente porque terei que me fundamentar em Winnicott. Sabe o que isto significa? P-S-I-C-A-N-Á-L-I-S-E.
E eu me desagrado inteiramente da psicanálise: meu santo não bate, não encaixa no meu corpo, não consigo nem abstrair. Eu poderia me fundamentar em qualquer outro teórico: Jung, Perls (Gestalt), Merleau-Ponty (Existencialismo), enfim, mas psicanálise é de matar.
Este episódio me fez inclusive lembrar que Freud não gostava de música. Pense: uma Arteterapeuta (que anseia pela educação democrática, de perspectiva humanista) defendendo as idéias de Freud, e ele nem de música gostava! Acho que se ele gostasse, iria preferir o caminho da música clássica, onde há pautas e regras escritas, e onde aquele que ‘desafina’ deve aprender a ‘tocar direito’, ele jamais iria se render aos encantos do Jazz, que como eu, prefere criar sempre um acompanhamento apropriado para a melodia tocada - pelo paciente ou pelo aluno, em vez de seguir o racionalismo cheio de formulações que Freud impõe com seu discurso.
Quem lê este desabafo dramático pode até pensar que o absurdo está mais em mim, do que na psicanálise. Eu até concordo, estou percebendo que em meio ao meu romantismo humanista, estou “hipostatizando” a psicanálise. Só pra constar, hipóstase é uma noção filosófica que significa originariamente “substância”, mas que com a evolução do pensamento humano ganhou a conotação de uma abstração considerada como real, uma ficção. Minha idéia da psicanálise é muito difusa, é uma hipóstase. Um conceito em torno do qual se tem respeito, mas que é e que permanece como uma relíquia incapaz de ser aplicado ou de adaptar-se à realidade.
Pois bem, em meio a esta turbulência toda, lembrei-me das palavras de um ser iluminado que conheci. Neste domingo ele me colocou deitada em seu abraço e disse: “FOCO NO RESULTADO E NÃO NO PROBLEMA”.
Aí peguei três horas da noite de ontem, coloquei debaixo do braço e fui ao encontro de Winnicott.
O primeiro ponto que gostaria de mencionar é que Winnicott coloca como central a noção do falso self. Antes de entender, meus questionamentos foram todos de extrema crítica: “se um indivíduo não é ele mesmo, quem será ele? Ele não sabe que ele não é ele mesmo, de que modo devemos tratá-lo, estudá-lo, entendê-lo? De que vale, afinal, uma filosofia, uma sociologia, e mesmo uma psicologia que estudam falsos seres humanos?”. Depois de me indignar, contar até cinqüenta, pedir a ajuda de Deus, eu parti para a compreensão: a maneira como ele expõe o tema dá a entender (o que eu concordo) que a maioria esmagadora das pessoas é capaz de uma crueldade insana sempre que se encontra em situações onde alguém mais ‘assume’ a responsabilidade pelas consequências. Winnicott vai contra a idéia de que a natureza humana é ruim, mas diz que o Ser Humano, em sua maioria, NÃO é um ser moralmente responsável (pensei nos nazistas feitos prisioneiros após o fim da guerra, que justificavam seu comportamento monstruoso alegando que estavam ‘apenas obedecendo ordens’), mas desenvolve um falso self quando se deixam levar por outras pessoas. Winnicott diz que o self é saudável e tende a evolução, se for desenvolvido em situações adequadas, e o papel do educador e do psicólogo é justamente facilitar esta condição.
Nisto achei um ponto de convergência entre Winnicott e Rogers. O primeiro, brigou ao longo da vida contra a submissão e Rogers a favor da autonomia. Dá na mesma? Talvez sim, mas ainda tenho uma cisma contra a psicanálise (talvez seja preconceito), preferia então Machado de Assis que escreveu vastamente sobre esse mesmo fenômeno (talvez eu o inclua nos meus próximos projetos rs).
Outro ponto de convergência entre Winnicott, Rogers e eu (santa pretensão) é a crença de que o ser humano vem ao mundo e começa a inventar. Ele nasce assim: recria esse mundo que nós todos conhecemos. Só muito tempo depois (‘muito’ na perspectiva do bebê, claro) ele começa a aprender. Quando isso acontece desse modo, teremos um adulto saudável, generoso, forte, capaz de compaixão e respeito pelo outro. Quando os que cuidam dele acham que deveria ser ao contrário, primeiro ele tem que aprender, e depois poderá inventar o quiser, ele perde a capacidade de inventar, porque se torna um escravo. Sei que é utopia, mas eu queria enquanto educadora libertar escravos. Transformar escravos em seres humanos livres – autônomos, como dizem os educadores mais esclarecidos. E como é difícil: os nossos escravos dão a impressão de que não gostam de ser libertados. Mas não é verdade: eles têm é medo, medo de tentar e não dar certo, medo de serem castigados por seus ‘amos’ (que não precisam mais ‘mandar’ – eles, os escravos, já sabem muito bem obedecer sozinhos).
Aproveitando a oportunidade, vale incluir neste desabafo, minhas idéias contrárias aos modos de criar filhos (pelos pais) e educá-los (pelas escolas) que temos hoje. O fato é que o sujeito da aprendizagem não pode ser criado, porque se for criado não é mais sujeito. O sujeito da aprendizagem só pode nascer sozinho. É possível atrapalhá-lo. É possível reprimi-lo. É possível impedir que ele se desenvolva. É possível obrigá-lo a ser outra pessoa que não aquela que seria naturalmente. Mas não é possível criá-lo. Só é possível permitir que ele cresça, partindo da premissa de que esse ‘crescer’ é um dom natural, mais ou menos como as plantas: uma semente cresce e vira árvore, e a árvore cria galhos e folhas e dá flores e frutos. Nós podemos regar a terra e adubar de vez em quando. Mas não podemos fazer a planta crescer. Não podemos fazer esse processo acontecer. Nem precisamos – ele acontece sozinho. Claro, podemos descobrir as melhores condições externas para que um dado tipo de árvore dê o máximo de frutos possível. Mas não podemos forçar a árvore a produzir mais. Felizmente para as árvores, elas são imunes ao desejo humano. Se lhes damos as melhores condições, saem os melhores frutos e na quantidade máxima. Mas quem faz isso acontecer é a árvore, não nós. O mesmo se dá com a educação, eu acredito, e é isto que quero com a minha pesquisa.
É isso que quero e é tão difícil porque confiança e auto-estima não se pode dar a ninguém: é preciso criar as condições para que elas surjam. E aqueles encarregados de educar outros seres humanos não podem mais permanecer sentados sobre o saber que acumularam, não podem trabalhar em cima da idéia de que a educação escolar deve transmitir conhecimento, aconselhar, atarefar. Acho um absurdo (cruel muitas vezes) isto de a escola, a família, os amigos, enfim, as pessoas insistirem em querer mudar o outro, controlar, transformar o outro em algo conveniente a si. Seria um sonho se as pessoas pudessem admirar o outro como se admira um pôr-do-sol, simplesmente deixar o outro “ser”. Talvez possamos apreciar um pôr-do-sol justamente pelo fato de não o podermos controlar. Quando olho para um pôr-do-sol, não me ponho a dizer: “Diminua um pouco o tom do laranja no canto direito, ponha um pouco mais de vermelho púrpura na base e use um pouco mais de rosa naquela nuvem”. Não faço isso. Não tento controlar um pôr-do-sol. Olho com admiração a sua evolução. Gosto mais de mim quando consigo contemplar assim qualquer pessoa...
E nesta minha viagem, Winnicott ficou para trás. Tudo bem, depois retomo, este texto já se estendeu demais, há tempos não escrevia um desabafo tão grande!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Não está sendo fácil trabalhar as metas expostas no texto anterior, mas graças à ação de Deus (que tem transformado minhas vontades) e, apesar de toda a dor e noites sem dormir, estou me saindo bem.
Na verdade, consegui equilibrar a parte prática da minha vida, mas minha alma está em pedaços ainda, mais do que ferida. Os resíduos de egoísmo, egocentrismo, as mentiras, ainda parecem estar presentes e eu tenho a sensação de uma marca da qual não conseguirei me recuperar.
Contudo, sinto-me muito abençoada por Deus. Ele conhece meu coração, é sensível às minhas necessidades e sempre me dá a força necessária para vencer (a mim mesma, principalmente) e ir além da imensa dor, e de todo o desrespeito, de toda falta de compreensão...
Ás vezes me sinto desconfortável perante Deus, pois Ele sempre atende as minhas orações, e eu pouco tenho feito para retribuir. Reconhecer isto não muda nada, eu sei. Eu preciso agir, preciso me empenhar no desenvolvimento de algumas virtudes atrofiadas por falta de uso, para que elas sirvam de algum modo às pessoas a minha volta.
Algumas qualidades negativas me perturbam tanto... preciso transformar minha falta de congruência, de genuinidade, e principalmente a falta de confiança na minha intuição, naquela voz interna que nos fala sutilmente e que, acreditem ou não, é dificílimo de ouvir, pelo menos pra mim... é como diz Alberto Caeiro: “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Se esta frase de Caeiro fosse parafraseada em referencia a minha questão, ela seria assim: “Não é bastante ter intuição e sabê-la, é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. É preciso paz, descanso, serenidade. É necessário aprender a ouvir e aprender com as dificuldades, pois elas nos dão a oportunidade de evoluir do nível humano comum, a um nível de maior amor e compaixão, maior consciência.
Hoje eu sei reconhecer que fui responsável pelas situações difíceis pela qual passei, pois escolhi confiar em indivíduos negativos, escolhi usar mal minha inteligência e permitir que descarregassem sobre mim amarguras, histórias, traumas e mau humor. Por tempo demais suportei tratamento indigno, humilhações, medo, grosserias e desamor, perdendo muito tempo e energia, na tentativa de conseguir um bom relacionamento com pessoas que querem viver em uma sintonia diferente da minha.
Iniciei uma nova etapa na minha vida em companhia de gente mais positiva, cheia de boas intenções, gente amiga, que se preocupa em ser saudável, alegre, próspera e iluminada. Quero compartilhar sentimentos nobres, aprender com os outros e ajudar, procurarei valorizar todas as conquistas que fiz e o amor que tenho em mim, evitando todas queixas desnecessárias, que me seguram nesta freqüência, de onde estou aos poucos saindo.
Sinto-me em paz com minha consciência e sei minha evolução provém de Deus. Escrevo este texto principalmente pra dizer à Deus que me comprometo a retribuir à Ele trabalhando para o bem do próximo, para sua alegria, seu bem-estar, atuando como agente catalizador de harmonia, entendimento, saúde, crescimento, entusiasmo, prosperidade e amor. Tudo farei sempre em harmonia e permissão de nosso Criador eterno e infinito que sinto como único poder real, atuante dentro e fora de mim.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


Há um tempo em que é preciso abandonar
as roupas usadas, que já tem a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos
levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo
da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa).

A desorganização está acabando comigo. Na verdade não sei se é a desorganização, mas sei que algo está tirando minha paz. Já comentei com algumas pessoas. Tenho o sentimento constante de que tenho algo para fazer, ou de que preciso ir embora, simplesmente não consigo relaxar. Agora também dei pra ter insônia e acordar chorando.
Isto de abrir mão da pessoa amada - ou melhor, “desejada” - a troco de paz e de momentos melhores é algo que exige mais do que coragem. Implica uma mudança radical dos hábitos, dos projetos, das horas vagas, de tudo. É necessário ressignificar tudo, repensar... Mais do que se adaptar, é preciso se reformular.
Diante disto me vejo desequilibrada, desorganizada e perdida. Pensei que ao organizar minhas prioridades, meu foco, eu iria descansar um pouco (meu pensamento anda acelerado demais) e o mais importante: poderia investir minha energia em algo a ser edificado, e não à toa, em questões passadas e até mesmo encerradas que eu insisto em remoer.
Então elegi quatro questões gritantes que estão me perturbando, e coloquei o foco nelas como meta: (1) Acabar com as minhas dívidas até dezembro. (2) Investir na entrada ao mestrado. (3) Aproximar-me de algumas pessoas (alguns amigos, parentes e minha afilhada, principalmente). (4) Distanciar-me do Jeferson, já que no momento a amizade só está atrapalhando.
Mais tarde (poucas semanas depois) descobri que não estava tratando estas questões como meta, mas simplesmente como um desejo. E que, como eu disse, não se trata de organizar minha vida, é bem mais profundo: trata-se de uma autorreformulação (o que remete a estabelecer novas bases, além de uma mudança estrutural de hábitos – talvez não seja tão complexo).
Mas considerando que as quatro questões postas realmente precisam ser trabalhadas, escolhi investir minha energia no tratamento delas. Partindo do princípio de que para ter resultados diferentes é preciso fazer diferente, exponho como lidarei com cada uma destas questões:
1- DÍVIDAS - Ao mesmo tempo em que quero acabar com minhas dívidas, estou gastando ainda mais (com coisas que nem gastava antes, como baladas e afins). Além de gastar, as baladas me roubam o tempo que eu preciso para estudar, para me concentrar na segunda questão, que é investir na entrada do mestrado.
2- MESTRADO – estudar, estudar e estudar. Isto não será tão difícil, porque eu gosto e estou acostumada. A única coisa que atrapalha é a ansiedade, e o desespero de me enclausurar em casa pensando que lá fora o mundo acontece enquanto eu estudo. Mas de qualquer forma, até em razão das dívidas, o recolhimento é essencial.
3- APROXIMAÇÃO DAS PESSOAS – difícil é me afastar do convite do costumeiro. Até penso em diferentes possibilidades de lazer, de visitar velhos amigos, de me aproximar de algumas pessoas legais da minha família, mas eu não invisto nisto. Não sei o porquê. Claro que tudo isto também envolve dinheiro. Então esta questão vai ficar meio no “banhomaria”, a espera de oportunidades, não vou investir tanto nisto agora.
4- EX-MARIDO – nem preciso dizer que é o tópico mais difícil, que me rouba mais energia. Tem semanas que o sentimento ameniza, tem semanas que intensifica. Às vezes é saudade, outras vezes raiva, outras, desesperança, desânimo, luto... O sentimento nunca é de paz. Ao invés de me distanciar, sempre o procuro para novas interpretações dos fatos, para amizade, para sexo, para conversas que quase nunca me envolvem. Tenho como meta me afastar, o que não significa sumir. Por mais que seja desesperador pensar nele, sem tentar investigar se está tudo bem, sem tentar fazer com que ele assuma erros passados, ou perceba o quanto fui legal, boa amiga, boa amante, vou me esforçar. Primeiramente, comprometo-me a não mais ficar com ele. Pretendo me respeitar de verdade, o que é bem diferente de simplesmente dizer que eu me respeito.
Percebi que estas questões pairam sobre o desejo de transpô-las, mas esta transposição não se efetiva simplesmente por falta de atitude, por eu direcionar minha energia para o local errado. Sendo assim, vou experimentar seguir o exposto acima, vou concentrar minhas energias unicamente nisto: esquecer o que já passou e avançar para o que está a minha frente.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

CORAGEM


“No momento em que nos comprometemos,
a providência divina também se põe em movimento.
Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor.
Como resultado da atitude segue todas as formas
imprevistas de coincidências, encontros e ajuda
que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado
encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou
sonhar, você pode começar. A coragem contém em
si mesma, o poder, o gênio e a magia”. Goethe.

A coragem tem sido uma questão temática da minha existência atual. Há os que dizem que é a primeira das qualidades humanas, pois garante todas as outras. Eu vejo simplesmente como a virtude que mais tem me ajudado a enfrentar o fim do meu relacionamento e a busca de novas maneiras de ser. Adaptar-se a situação é fácil, difícil é aprender com ela. Tem que ter coragem...
É preciso coragem para lutar por si. Viver com alguém que não te olha por inteiro, que nega as suas lutas, que reforça suas fraquezas ao invés de te ajudar a desenvolver tuas virtudes, teu autorrespeito, é talvez o maior ato de covardia que alguém pode ter consigo mesmo, é negar a si mesmo.
Nutrir uma relação de ressentimentos impede o senso se paz. O preço é alto, muito mais alto do que a energia que se gasta em soltar as próprias amarras, em sair debaixo das asas do conforto. É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo os diversos riscos que a vida implica, do que permanecer estático como os covardes, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros.
Seria trágico se não fosse sátira... rsrsrs.
O fato é que meu jeito excêntrico sempre dificultou minha vida (é preciso ter coragem também para ser diferente), pois ao me distanciar do convencional, precisei buscar referencial em mim mesma, e isto fez com que eu me perdesse muitas vezes. Claro que tem o lado bom, pois sempre acabo me encontrando, e não apenas o encontro, mas também a busca me faz sentir êxtase, o que é bem gratificante. Isto de me perder, de permitir novos encontros comigo mesma, de procurar e criar referenciais próprios, de arriscar, é algo fundamental. É o que me fundamenta no sentido de dar firmeza, motivação e perspectiva. Além disso, entre erros e acertos, descobri que sempre que me perco é porque vou contra minhas verdades. Ir ao encontro da própria verdade é um ato de coragem. Sinto, como Dostoievski, que mentir para si mesmo está na origem de todas as falsidades. Prefiro arriscar, mesmo em meio as tempestades. E termino com Guimarães Rosa.

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre o amor e o egoísmo.

Em janeiro enviei um e-mail para Gua, desejando um feliz ano novo e ela respondeu que não podíamos continuar fingindo que estava tudo bem entre nós. Eu pensei... pensei... pensei... Em meio à neblina da consciência confusa, conseguia ouvir uma rebelião interna esbravejando palavras incompreensíveis, mas infelizmente eu não consegui entender nada. Retornei o e-mail dizendo que havia percebido um afastamento da parte dela, mas que não sabia o motivo. Então ela se chateou (na verdade, demonstrou estar profundamente decepcionada) e deixou de atender minhas ligações e responder meus e-mails.
Fiz várias tentativas de aproximação, e nada. Nestas tentativas eu queria que ela me desse uma pista do que estava acontecendo (sei, não tem cabimento), mas eu simplesmente não conseguia entender. Então considerei que a compreensão de algo fica borrada quando existe afetividade entre nós e o que queremos entender, e resolvi dar tempo ao tempo.
Dado o tempo, esta semana enviei uma mensagem no celular dela perguntando se podia ligar. Ela respondeu, simplesmente, “pode”. Respirei fundo e liguei. Não lembro como iniciamos, mas sei que ela logo tocou no assunto:
- “The, não tem como a gente conversar normalmente antes de acertamos nossas questões. Eu fiquei profundamente magoada, depois de ter lhe dedicado anos de terapia, você diz que não faz idéia do que pode estar acontecendo entre nós. Isto significa que continuo sozinha com a minha dor. Eu até entendo que seja difícil olhar para algumas coisas, mas eu não vou te acusar de nada. Um dia você vai se dar conta por si”.
Enquanto ouvia isto minha mente fervia, fiquei bem nervosa e confusa, e sem conseguir refletir fui me explicando:
- “A única coisa que pensei como empecilho na nossa amizade é que muitas vezes me peguei angustiada por não conseguir discernir até onde eu podia entrar em sua vida pessoal, pois nossa relação paciente-terapeuta foi muito bem estabelecida e profunda (encaixotei nossa relação num clichê e através desta imagem, parada e fixa, me relacionei – penso eu). Quando eu entrava na sua vida, quando perguntava algo sobre sua rotina, eu sentia que estava sendo inconveniente, ficava desconfortável, e mesmo você dando todos os sinais de abertura, ainda assim, eu não consegui te alcançar enquanto pessoa. A isto se soma minhas atitudes de descuido e egoísmo: eu ofereci pouco. Mais pedi do que me propus a dar. Além disso, cobrei muitas vezes, sem olhar suas possibilidades”.
E então, já com outro tom de voz, ela disse:
- “É isso, você entendeu tudo! Senti que só eu era sua amiga, e você só queria receber, e depois você veio e falou que não percebia nada... eu passei a perceber muita coisa em suas relações, mas ainda está confuso pra mim, por isto pedi suas colocações”.
Nossa conversa não foi exatamente assim, acho que eu não disse tudo o que eu escrevi, mas gostaria de ter dito muito mais. Por exemplo, gostaria de ter dito que “a isto também se soma...” o exclusivismo que eu exijo das pessoas, o despeito que muitas vezes sinto, outrossim, a ingratidão, a secura, enfim, uma série de qualidades negativas que eu preciso substituir por algumas virtudes, que há tempos precisam crescer, florescer.
A semana seguiu sem que eu parasse de pensar nisso tudo. Analisei minhas relações próximas, com meus amigos, parentes, colegas de trabalho, até perguntei a opinião de alguns a respeito destas minhas atitudes.
Notei uma coisa muito estranha: tenho relações em que só eu ofereço, e outras em que eu apenas recebo. Das que eu só recebo, eu cobro muito, cobro que elas compensem o que me falta nas que eu apenas ofereço. Ainda não está claro pra mim, mas tem alguma coisa a ver com esta coisa confusa que tentei descrever. Claro que não só isto, há muito mais por trás desta questão louca, e eu quero conseguir aproximar-me do que quer que esteja se passando dentro de mim. Fico desapontada quando percebo que tenho muito medo ou me sinto ameaçada demais para me permitir entrar em contato com o que estou vivendo, e que por isso não fui (e não sou) honesta ou verdadeira, principalmente com as pessoas que gostam de mim.
No final da ligação, eu disse à Gua que gostaria de me reaproximar, que queria ser amiga dela. Não entendi direito se ela quer, mas eu quero muito viver esta relação, encontrar pontos de contato e de diferença entre nós, que somam, e que pode nos levar a ir mais adiante. Desta vez, cuidarei para que seja uma relação de reciprocidade, e proximidade. Ninguém pode ficar de fora, ou de cima “observando”. Sei que numa amizade não há quem dá conselhos, mas não se mostra, quem ensina sem se expor, sem estar visível. Faltou-me observar, e faltou também acreditar na minha intuição, faltou ouvir aquela rebelião interna que eu mencionei no início deste texto. Mas foi uma experiência estruturante, que partiu de uma relação real, de pessoas reais, de sentimentos verdadeiros. Dizemos-nos amigas. Chama-se amor.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sobre o fim...

“Falta saber soltar, deixar ir embora. Falta aceitar o fim. Um fim que pode ser definitivo ou não, mas que precisa acontecer como fim, ponto final de uma trajetória. Fazer acrobacias mentais e sentimentais tentando inventar soluções e novas interpretações dos fatos só prolonga o sangramento, enfraquecendo quem sofre”...
... Começo o texto assim, meio que do meio, densamente, duramente, dramaticamente, simplesmente porque é assim que sinto minha dor, pulsante, intensa em mim.
Quando dividimos a vida com alguém, quando nos entregamos à relação corremos o risco de nos anular enquanto indivíduo, de negar nossa jornada individual, única e gloriosa, se desta forma a concebermos. Dar-se conta de estar só, em si, já é possibilidade de transcendência ou decadência.
O medo da solidão nos faz acreditar que o outro sempre vai estar lá, faz prometermos ao outro estar sempre lá, como se a vida fosse algo estático, como se tudo pudesse ser planejado, controlado e mensurado.
Reza o senso comum que um dos principais recursos que utilizamos é a adaptação. Eu até concordaria se minhas experiências não me mostrassem que adaptação acaba por se transformar, na prática, em submissão. Não é de todo o mal, às vezes eu exagero um pouco.
Acho que no fundo eu me considero sortuda por sofrer. Significa que não sou do tipo que acaba adormecendo a sensibilidade a fim de sobreviver. Sou forte porque não suporto o tranco como um boi mudo que leva a carga, e sim como pessoa atenta que não se deixa anestesiar. É do forte tirar as conclusões e aceitar as conseqüências, reconhecer a cruz e viver com ela, ou jogá-la fora e mudar de rumo. É da pessoa que agüenta o tranco fazer o que é preciso, mesmo que não é o que desejaria fazer. E, às vezes, não é falando e agindo que se mostra força, mas justamente o contrário, calando e continuando a andar, custe o que custar. Essa postura é indispensável quando se está rompendo uma relação que dá trabalho, produz escândalos e sofrimento. Ou simplesmente dor. Mas a consciência do que é justo é maior do que o “coitadinho de mim, ou dele, ou dela”. É absolutamente indispensável saber agüentar o tranco quando se aposta em si mesmo, aumenta nossa imunidade psicológica. E isto certamente é mais saudável do que se mutilar para estar com o outro, como quem não acredita que pode ser amado por aquilo que é.

quarta-feira, 23 de junho de 2010


“O homem prudente deve ordenar, segundo a importância,
todos os seus interesses e saber impeli-los para frente,
cada um na sua ordem. A nossa avidez muitas vezes
os emaranham, obrigando-nos a correr para tantas coisas
de uma só vez que, por excesso de desejo das menos
importantes, terminamos por pender as mais importantes”.
Marques De La Rochefoucauld.



Depois que admiti o fim da minha relação e que olhei para a bagunça que anda minha vida sem o rancor que me acompanhava a não sei quanto (mas sei que há muito) tempo, passei a respirar melhor e mudei o foco da minha existência.
Há meses (talvez anos) eu concentrava toda minha energia para salvar meu casamento, mas hoje esta energia pede violentamente um canal para que possa ser desprendida e revigorada. Antes de qualquer coisa, agora que inicio uma nova fase, preciso organizar o caos em mim, preciso estabelecer prioridades, e vejo a necessidade de trabalhar minha avidez, como diz a epígrafe.
Diante disto tenho refletido: “o que priorizar, qual seria o meu entorno?”. O meu primeiro entorno infelizmente é minha vida financeira, é o que mais tem me limitado e me possibilitado ao mesmo tempo, e é o que está mais desandado atualmente. A questão financeira nunca tinha sido prioridade pra mim, ao contrário, sempre critiquei as questões do capitalismo, do consumismo, e similares... Sempre detestei o modelo de mundo que me circunda, em formato de caixinha – necessito fazer esta observação: “a minha volta, a idéia é deixar a vida pessoal para trás, sair de uma caixinha (apartamento, casa) pela manhã, entrar em outra, sobre rodas (ônibus, metrô ou carro) e chegar à outra maior (escritórios ou fábricas sem vista para fora), para ficar o dia inteiro, e voltar via caixa-sobre-rodas para a caixa-mãe. Lá, é sentar na frente da caixinha-com-tela e depois cair desacordado por sobre uma caixa-com-colchão. No dia seguinte, transitar novamente entre caixinhas. Fui criada para ser capaz de comprar caixinhas maiores para morar, caixinhas mais rápidas para dirigir e caixinhas de canto no escritório para trabalhar, onde pessoas dentro de caixinhas de organograma mandam em caixinhas de cronogramas. Aprendi que o sucesso ou fracasso depende de quanto subirem na hierarquia das caixinhas” – feita a ressalva que visa deixar bem clara minha posição frente aos valores de status e posição econômica, eu posso seguir mais tranquilamente, com a consciência de que organizar-me financeiramente nada tem a ver com as tentativas de realização do meu projeto de vida. Antes, prefiro viajar sem rumo.
Mas voltando as prioridades, é chegada a hora do planejamento, de fato:
• Até dezembro me organizarei financeiramente, fazendo um balanço mensal dos meus gastos, cortando os excessos e buscando meios de ganhar mais (hora extra e trabalho extra). Até o final do ano tenho uma dívida de R$ 3674,00 para abater, a qual não pode aumentar (que Deus me ajude – Amém).
• A partir de janeiro irei investir no meu lado mulher, em roupas, cabelo, e o que mais minha criatividade permitir.
• A partir de abril irei dedicar-me a vida familiar, em especial a quatro pessoas: minhas duas irmãs, minha avó e minha afilhada.
Durante todo este tempo trabalharei a manutenção do meu peso e dos meus estudos. E muito importante: irei procurar os amigos distantes, e cuidar mais dos próximos, pois ando muito desnaturada.
Quando sentir segurança na organização dos tópicos acima, investirei nos estudos enfaticamente, e mergulharei profundamente em outros mares, descobrirei outros mistérios, e trilharei caminhos desconhecidos, nos mais altos vôos que já alcei até hoje.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

“A-Deus” e fique com Deus.

No último texto que escrevi, eu falava sobre um sentimento de força e jovialidade, fruto da iniciativa que tive em sair de casa, em romper meu relacionamento “conjugal”. Mas me esqueci de contar um detalhe importante: minha relação com meu companheiro (se é que posso chamá-lo assim) ainda não findou, pois eu havia proposto um namoro, ou um laço qualquer que sustentasse o vínculo ilusório que eu insisto em manter, sem saber o porquê.
O fato é que o tal namoro não vem funcionando, e o pior, isto está me fazendo um tremendo mal. Admitir isto ameniza um pouco, mas a realidade merece ser “abraçada”, e não apenas “olhada”.
Por isto esta semana foi de reflexão. Se eu pudesse ter um poder especial, eu gostaria de ter o poder de tirar pensamentos da minha mente, pois refletir às vezes dói. Neste caso, a dor é pelo luto, porque é chegada a hora de dizer “adeus”. Isto remete à perda de uma grande parcela da minha existência, inclui projetos, sonhos, desejos, e inclui sobretudo, a culpa por não ter conseguido manter minha relação, por não ter escolhido aprender a lidar com as dificuldades.
A escolha agora exige um trabalho árduo, desafiador. Lamentável momento este de dizer adeus, eu jamais quis que acontecesse, mas não adianta ir adiante na vida ignorando o fato de que “amor” é uma palavra cheia de facetas e surpresas, e dependendo do nível de consciência em uma relação, o amor pode nos fazer florescer ou murchar. Há muito tempo eu venho murchando, mais a cada dia. Eu preciso (re) aprender como faz para florescer.
Então, por isto, decidi pelo adeus no sentido de a-Deus, de entregar à Deus. Dar as costas com o coração pesado, mas não culpado, pois fiz o que pude. Aos poucos, sem pressa, escolhi que vou me afastar, com a consciência aflita de que não tenho o controle sobre o outro, sobre seu sentimento, atitude, nem mesmo sobre o que seria melhor para ele. Não me resta nada, a não ser assumir o fardo desse conhecimento e sem rancor devolver ao universo o que não me pertence: o outro e seu destino.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Uma nova casa, um novo caminho para o trabalho, uma nova história...

Observa os pombos. O macho paquera a fêmea. O que ele faz? Enche o pescoço e roda em volta dela. O que ela faz? Evita por um tempo. Ele vai atrás. E assim em diante. Ele espera a resposta dela, ela espera a dele. Ambos fazem a mesma coisa há milhões de gerações. Cada um reconhece o comportamento do outro, o tem embutido em seu próprio DNA.

Simples.

Ouço dizer desde que me entendo por gente que quem complica somos nós, e o pior é que é verdade. Vejam bem: durante muitas manhãs acordei sofrendo antecipadamente a imaginar como seria o dia depois do dia em que eu me separaria do Jeferson... (ai que inveja dos pombos). Hoje é este dia, e eu me sinto três vezes mais forte e dez anos mais jovem.

Sempre acreditei que a força de uma pessoa é proporcional à sua capacidade de agüentar a desestabilização que acompanha toda tomada de consciência. Desestabilização significa tensão, que significa angústia, que para alguns significa desespero. O que me organiza (ai que ódio dos pombos) - e conseqüentemente ameniza esta complexidade toda - é pensar na imensidão do Universo. Pense: tudo surgiu de um pontinho invisível a olho nu, que “explodiu” (famoso e polêmico Big Bang), expandindo-se na incrível realidade que conhecemos. Sei que o ponto de mutação foi o tal desconforto, a inquietação desagradável, que grávida de possibilidades cresceu tanto até que explodiu, num universo novo. O mesmo vale para nós, meros seres humanos perante a grandeza do universo (embora uns ache o contrário). Mas dá muito trabalho mudar de atitude, de relação, de vida.

Existir cansa, se relacionar cansa, escolher cansa, mudar cansa... Deve ser por isto que quando alguém morre, os mais velhos falam: “fulano descansou!”.
Nem sei porque me remeti a morte para falar sobre meu cansaço, pois me sinto mais viva que nunca. Há tempos não sentia um alívio tão grande pós-decisão de tamanha relevância e decência para a minha vida.

Quem me conhece sabe que sou fascinada pela intelectualidade que orienta as filosofias e as grandes descobertas da humanidade, mas minha busca agora é por uma história de paz e um lugar de descanso. Por isto (e porque não vejo outra maneira) resolvi colocar as providencias divina à frente das minhas decisões, peço a Deus que me ajude a ser como os pombos e que me livre de pressupostos morais, éticos e de conformidade social para que todas as minhas escolhas sejam assertivas e me tragam a segurança que eu confortavelmente sinto hoje.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Resposta à Carol...

Antes de mais nada quero dizer que você é linda na alegria e na tristeza (rsrsrs), na sabedoria e no desespero, no amor e na dúvida, te admiro acima de todos os sentimentos... digo isto porque achei belíssimo seu desabafo no e-mail. Você falou que tem achado que gosta de sofrer, e entre este e outros dizeres você escreveu um texto denso, pungente, e lindo. Me identifico com a parte do sofrimento, não por gostar de senti-lo, mas por precisar sentir. Ele (o "sofrer") é inspirador, por fazer nascer o entusiasmo criador. Você sabe, a dor - motivação dos poetas - nos leva a uma atitude de recolhimento, de introspecção, e de transcendência muitas vezes. Não tem como não gostar disto, não tem como não ver o lado bom, não tem como não achar lindo. Por não ter como não ver como um caminho, é que eu te digo que deve aceitar o sentimento, viver este processo... pare de lutar, e viva! Deixe que a angustia expresse livremente suas buscas, pois ela só é perturbadora quando a gente luta contra. Vou até citar Fernando Pessoa: "tudo que agora sinto está em mim pensando". Esta é uma síntese poética da indissolúvel ressonância que se opera entre o sentir e o pensar em nosso coração e mente.
Carol, sua dor é amiga da minha, por nossos motivos serem os mesmos. Mas eu fiquei melhor depois que aceitei algumas coisas e pratiquei outras. Coisas minhas. Eu entendi que não posso viver sacrificando meu presente na esperança de um futuro melhor. Nesta espera, a cada dia fui me distanciando mais de mim mesma, e isto me roubou energia, vaidade, amor próprio. Cansei. Aliás, bem lembrado por Karina Buhr na canção: "esperança cansa".
Além de me distanciar de mim mesma, também não sabia o que eu queria exatamente pra mim, mas eu sempre soube que se fizer as mesmas coisas, terei continuamente os mesmos resultados. Então fiz uma reflexão contrária em relação ao meu casamento, e comecei a avaliar o que eu não queria pra mim. Nesta reflexão, encontrei muitas coisas (sentimentos, situações) que eu vivia e que definitivamente eu não quero pra mim. Acredito que o casamento deve ser um relacionamento potencialmente enriquecedor e que numerosos problemas desenvolvem-se quando tentamos satisfazer as expectativas do outro. Um casamento efetuado com expectativas é instável e pouco recompensador. Acredito também que a maioria das nossas angústias acometem-nos porque não conseguimos ficar sozinhos. Precisamos ser capazes de estarmos sós, de outra forma somos apenas vítimas. Quando somos capazes de estarmos sós, percebemos que a única coisa a fazer é iniciarmos um novo relacionamento com o outro – ou até o mesmo – ser humano. E é isto o que eu vou fazer agora. Não vou apenas "descasar", vou iniciar uma nova história, mais bonita talvez. Se não mais bonita, seguramente mais leve.
Sobre a vida de solteira, certamente trás como vantagem os tais vôos inimagináveis, além de novos sabores, novas cores e novos cheiros. Novos problemas também (é sempre bom diversificar) rsrsrs.
A respeito de você ter sido criada para ser princesa, comigo foi um pouco diferente. Cresci com a promessa de que o mundo adulto seria um lugar mais fácil, porque eu poderia escolher, porque eu não dependeria de uma relação que me deixava de mãos atadas, submetida a palavras de humilhação, de depreciação (falo em relação aos meus pais), e eu acreditei... Por conta disto corri atrás deste mundo cedo demais, e até hoje procuro um lugar de descanso, que nunca encontrei. Nunca. Lembro-me de que um dia em conversa com a Guacira, num momento em que nossa relação passava do estágio do terapêutico para o da amizade, ela me disse exatamente isto: “eu sinto vontade de falar umas verdades para as pessoas que fizeram você crescer acreditando que teria paz se fosse uma adulta consciente, responsável, honesta e decente”. Depois que nos tornamos amigas, ela sempre me dizia que não adiantava eu fazer minha parte na expectativa de o mundo ver o quanto eu sou boa gente, o quanto sou capaz de ser altruísta, o quanto sou capaz de perdoar, de compreender, de estender as mãos. Todas as vezes em que me doei foi na esperança de ser reconhecida, mais do que isto, de ser amada, de ser cuidada na mesma medida com a qual eu cuido e de ser aceita, com todas as minhas variações e limitações. Infelizmente não consegui. Ninguém consegue. E pior, com o tempo a gente descobre nas pessoas do nosso convívio (aquelas a quem amamos), coisas opostas ao que sonhamos para nós, como a tal frieza que você nunca notara no seu companheiro. Mas você tem que considerar que talvez seja uma fase e que ele tem muito mais qualidades do que defeitos. O que você precisa saber é se quer viver a vida que pode ser construída ao lado dele. Você quer viver ao lado dele com o que ele tem para te oferecer? Veja bem, perguntei com o que ele tem e não com o que você gostaria que ele tivesse. Pense por este lado. Aceite ou assuma uma nova atitude. Em qualquer momento podemos começar a agir diferente e refazer o caminho da autoconstrução.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Diário

Quatro de maio foi um daqueles péssimos dias, em que a necessidade de mudar cobra, exige uma atitude, fazendo fervilhar os neurônios, os hormônios, os fluídos do corpo todo, a espera de um “não sei o quê”... Acho que a espera é de um parto. Parto como substantivo e verbo, pois é preciso muito amor, consciência, coragem e maturidade para conseguir quebrar o ovo e nascer como pessoa verdadeira... e um dia é preciso parar de planejar e, de algum modo, partir.
A isto se somam inúmeros questionamentos, como estes: o que leva uma pessoa a continuar na mesma (Vida? História? Rotina?), quando sabe exatamente que não é o melhor para si, tem certeza absoluta do que não quer para sua vida, e possui todas as condições para mudar. O que acontece com a porra da atitude que não se realiza? Para responder a estas e tantas outras questões (rsrsrsrs) decidi fazer a partir do dia 04/05/10 uma espécie de diário, onde eu descreveria pelo menos uma situação ou sentimento relacionado ao dia e à minha condição de “casada”. O objetivo é apenas olhar para os meus dias e medir o lado bom e o ruim de estar casada com o ser em questão. Não que eu tenha dúvidas sobre o que pesa mais, acontece que alivia quando registro e também me organizo e compreendo melhor o que acontece comigo.
Confesso que foi forçada (pelo meu lado que ainda está sano) que eu escrevi sobre os primeiros dias, escrevi de qualquer jeito. Mas agora eu decidi levar a sério e vou até postar no blog, a começar de um apanhado geral destes dias de desleixo:
05/05/10 - cheguei do trabalho, e ele tava lá com aquela mesma cara de sempre (que me angustia). Trocamos poucas palavras, ele jogou o controle da televisão com toda a força no chão até partir em vários pedaços, porque o controle não funcionou. Deitamos na mesma cama, ele não me fez um carinho, não me beijou. Enquanto dormíamos, só me abraçou durante poucos 5 minutos, porque eu tomei iniciativa. De manhã saiu para trabalhar sem ao menos dizer tchau.
06/05/10 - Foi ameno (menos grosso) ao atender minhas ligações, mas isto não significa que tenha sido atencioso e nem que tenha se mostrado feliz por conversar comigo. Quando chegou do trabalho, claro que não me beijou, aliás, nem oi ele falou. Não que tivéssemos brigado, este é o modo costumeiro de ele me tratar. E assim foi até amanhecermos hoje, sem um beijo, sem um carinho. Eu tento com todas as minhas forças não cobrar o cuidado, a atenção que eu tanto sinto falta, mas não tenho conseguido. Hoje cedo disse a ele: “todo ser humano precisa se sentir desejado, amado e seguro”. Além disso, disse que melhor seria se fossemos amigos e ficássemos de vez em quando (isto é consolo para mim), pelo menos eu não me sentiria tão rejeitada ao lado dele. Ele comprou um controle novo pra TV.
10/05/10 - Nada melhorou. Fomos viajar, e até que não brigamos, segundo ele porque ele conseguiu se controlar, pois se dependesse de mim tínhamos brigado. Eu vejo como o completo oposto, pois venho abrindo mão de mim mesma em troca de paz. Pra dizer que não houve beijo, houve um selinho, mais nada. Ah, houve também duas danças, que foram ótimas, mas agora me sinto péssima porque perante todos ficou claro que ele agia como se fizesse um favor em dançar comigo. Semelhante foi quando apontei um casal da terceira idade que pegavam nas mãos e ele respondeu: “quer que eu pegue na sua mão para satisfazer seu ego?”. Fora isto eu contei como algo de muita relevância ele ter ficado bastante tempo no almoço com a minha família.
11/05/10 - Fui abraçá-lo quando cheguei do serviço ele se esquivou. Reclamou de dor no nariz. Pedi uma massagem ele disse que não. Convidei-o para me assistir palestrando e ele disse que não. Pior: disse que vai fazer uma cirurgia, precisa de um acompanhante e convidou um amigo (que eu não sei nem o nome) para dormir com ele, só porque não quer ter que fazer o mesmo por mim em um futuro qualquer.
12/05/10 - Levei um filme para assistirmos juntos, um filme que falava de amor, de superação, pensei que seria bom se assistíssemos, mas não consegui. O pouco caso dele foi de uma insensibilidade tão grande que eu desisti e fui dormir com tanto ódio de mim por insistir em fazer algo com ele que o meu peito doeu a noite toda.
Então, meus dias são assim, não tenho mais nada para falar. Depois que li este texto perdi até a fome que estava enorme minutos atrás...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tenho cérebro, mas me falta o fígado...

Eu poderia dizer também: tenho cérebro, mas não “entranhas“. Só preferi o fígado (órgão que na Grécia Antiga era sinônimo de coragem) porque ele é o órgão mais sensível do meu organismo (piadas à parte... não me perguntem o porquê). Claro que esta analogia serve só para poetizar o fato de que não adianta ter inteligência se perdemos a conexão com a profundidade dentro de nós, o que nos impede de sentir a escolha certa. “Muitas pessoas”  vivem a vida inteira negando o óbvio, por estarem assustadas demais, perdem a fé na vida e em si e engolem a mordida amarga da existência. O tempo passa, a idade aumenta os medos. Possivelmente ficamos mais maduros, mas também sem experiência prática de pular no escuro e acreditar que podemos sobreviver.
Então passamos a machucar o fígado (rsrsrs) e “amantados” por raciocínio justificamos qualquer coisa. Com “boas razões” cobre-se a simples falta de peito para encarar a única escolha decente que se tem na vida. Acostumados a “fechar os olhos”, chegamos a não abri-los mais (“De que adianta, afinal, se não podemos dizer o que pensamos? Tanto vale não ver.”).
É claro que estou falando de relacionamentos... Justifico: se racionalmente mantemos os nossos valores, na prática, o que acontece é que devemos calar o que realmente pensamos porque simplesmente ou calamos ou nos mandamos da relação. Ponto. Cala um dia, cala dois dias, cala três meses, cala quatro anos… no que vai dar isso? Por mais boa vontade que se tenha, é psicologicamente impossível não tornar-se cúmplices daquilo que rejeitaríamos se não houvesse vínculos - a convivência é o maior elemento de “convencimento” de uma pessoa.
Para mim, a opção mais certa é afastar-se, muito ou pouco (o que não significa necessariamente sumir). Manter distância é uma forma de dizer “discordo”. Infelizmente, às vezes é o único jeito de comunicar o que pensamos – é o que faz com que a pessoa em questão recorde que há outros mundos, outros valores e outras possíveis escolhas de vida. Nossa voz é fraca quando o pecado está encardido demais. Mas tranqüilo, desde que conscientemente e racionalmente  saibamos que não tem como não sermos afetados pelo convívio com outras pessoas, e que (con)viver é uma escolha nossa – escolha que fazemos, claro, com todas as razões do MUNDO, e causas nobres, como a de amar alguém que seria melhor perder que encontrar.
Aqui entra o fígado: por razões totalmente hipócritas, eu encharco de afetuosidade a máquina da relação para passar por situações difíceis... e quanto mais espinhosa for a realidade mais eu utilizo deste método para suavizar com os óleos aromáticos da sedução afetiva o ambiente duvidoso no qual eu deito confortavelmente. E sei que não será assim que terei coragem para dar nomes aos bois e reconhecer o que é errado, nem é assim que terei atrevimento para agir de acordo. Antes, preciso da força viril de saber enfiar a faca quando é preciso, porque há momentos em que uma cirurgia é a única salvação. Óleos aromáticos não vão poder tratar do que simplesmente é podre.