sexta-feira, 5 de novembro de 2010

E eu que achei que havia superado...

“Você se irrita com a burrice alheia?”.
Tudo partiu desta pergunta, que fiz a um amigo. Não sei de onde surgiu a pergunta, nem se foi feita exatamente desta maneira. Lembro apenas que a resposta foi bem relativizada, mas convincente. Ele disse que se a pessoa se esforça, tenta compreender algo, enfim, ele não se irrita. Mas se a pessoa é cabeça dura, aí sim é complicado. E por falar em complicado, vale ressalvar que nos dias de hoje virou vício as pessoas utilizarem esta palavra quando não sabem o que dizer. Mas faz sentido. Aliás, a simplicidade é um estado que pertence apenas às crianças (pequenas e bem criadas, hoje nem isso podemos generalizar) e aos sábios (espécie rara). No começo e no fim do novelo, o fio é solto e linear. No meio é uma “complicação” só.
Bom... feita a ressalva, é importante dizer que concordei com a resposta dele. Agi como se pensasse igual. Na verdade penso igual. O difícil é sentir igual. Se bem que, em relação a burrice alheia, eu já tinha melhorado bastante (até em sentimento). De uns tempos pra cá tenho me gabado por ter evoluído em relação a compreensão do outro, o livramento de preconceitos, a flexibilidade diante do diferente, e diante do absurdo, principalmente. E quando falo que me gabo não é exagero, muitas vezes chego até a ser soberba. Mas... como sempre disse minha amada vózinha: “a gente paga a língua”.
Pois é, esta semana perdi a linha com uma destas pessoas insuportavelmente burras. Um tal cidadão que eu não agüento mais nem ouvir a voz e que trabalha comigo. Ele é gente boa e tudo, é gentil, educado. O problema é que é beeeeeeeem burro.
Deus que me perdoe!
Eu não sou a inteligência em pessoa, ao contrário, às vezes até descambo com meus extremismos. Mas tem gente que abusa. Não estou nem falando dos acometidos por crises de burrice súbita, como Aldo Rebelo e os 13 congressistas que aprovaram o novo código florestal e de repente palavras como biodiversidade, manancial, vida futura, não significavam mais nada pra eles. Também não estou falando de pessoas como a Marina Silva que, embora historiadora, fica parecendo uma louca quando discursa como se fosse uma porta voz de um Deus antigo, que para se comunicar com os fiéis utiliza a figura dela, e com isto declara-se publicamente contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo, usando argumentos baseados nessa mitologia... Eu até admito este tipo de burrice... desde que fique longe de mim...
O problema é quando o portador de burrice crônica senta do lado da minha mesa de trabalho. Antes eu achava que burrice contaminava. Hoje não. Agora acho que a burrice é uma doença progressiva, incurável e fatal. Como a dependência química, sabe... Ah, e é cega também! Porque a inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda... quando eu tiver inteligência suficiente vou desenvolver uma teoria sobre isto.
Mas voltando ao cidadão obstruído pela inépcia absoluta... O pior é que ele enche o peito e me fala: “temos que ser práticos”! Ele fala cheio de razão, é incrível! Fala como se a inteligência prática subsistisse incólume ao emburrecimento geral, como se inteligência fosse um adorno a ser acrescentado ao sucesso depois de resolvidos todos os problemas. De fato, a prova mais evidente da burrice torpe é o sujeito nem se dar conta dela.
O tal cidadão me irrita não só porque empaca meus afazeres de trabalho, mas porque rouba meu precioso tempo na insistência de trocar comigo conversas que não evolui filosoficamente, baseadas em um roteiro maniqueísta e machista (acho que ele cresceu com um bando de mulheres idiotizadas). E pra fechar com chave de ouro, ele se faz de bonzinho e sensatinho, como muitos com pinta de herói que luta pelo bem-estar, pela liberdade das mocinhas aprisionadas… Aff, odeio estes machos que se engalfinham pra provocar gratidão, admiração e tesão nas fêmeas.
Concordo com Nietzsche que somos felizes apenas na ignorância. E tenho uma boa notícia aos que torcem pela minha felicidade: ano que vem vou tentar ser uma pessoa normal. Eu gostaria muito de ser feliz por pintar meu cabelo de loiro, colocar silicone e botox , fazer dieta, não ter celulite ou rugas, e malhar assistindo Sex and the city, reality shows, Ana Maria Braga, Pânico ou novela de TV... Pois é gente, mas ano que vem vou tentar chegar perto disto, é uma das minhas metas ser uma mulher elegante (preciso apenas aprender como que faz isto), uma cidadã comprometida com o bem geral da nação, uma pessoa que ganha dinheiro, etc, etc, etc...
... NÃO APLAUDAM AINDA....
Porque antes de tudo isto eu preciso de um doutor que ainda pratique a lobotomia... sofro demais por ser eu. Perdi o senso do que é ser mulher. Que roupa usar? Qual o tamanho (e o modelo) certo da bolsa que tenho que usar para ir à praia, e qual devo usar para ir ao MC’Donalds? Pois é, sou burra pra estas coisas, não sei nem ser mulher e fico criticando o idiota que senta do meu lado. Mas é que infelicidade pra mim não é não conseguir escolher qual bolsa usar, mas não ter condições de concluir as incoerências da vida…
Então vamos a uma conclusão coerente: agradeço aos ignorantes por me levarem a um estado de sucessivas perguntas; e aos inteligentes, por atiçarem em mim problemas em relação aos quais minha própria curiosidade vacila.

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