quarta-feira, 11 de agosto de 2010


Há um tempo em que é preciso abandonar
as roupas usadas, que já tem a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos
levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo
da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa).

A desorganização está acabando comigo. Na verdade não sei se é a desorganização, mas sei que algo está tirando minha paz. Já comentei com algumas pessoas. Tenho o sentimento constante de que tenho algo para fazer, ou de que preciso ir embora, simplesmente não consigo relaxar. Agora também dei pra ter insônia e acordar chorando.
Isto de abrir mão da pessoa amada - ou melhor, “desejada” - a troco de paz e de momentos melhores é algo que exige mais do que coragem. Implica uma mudança radical dos hábitos, dos projetos, das horas vagas, de tudo. É necessário ressignificar tudo, repensar... Mais do que se adaptar, é preciso se reformular.
Diante disto me vejo desequilibrada, desorganizada e perdida. Pensei que ao organizar minhas prioridades, meu foco, eu iria descansar um pouco (meu pensamento anda acelerado demais) e o mais importante: poderia investir minha energia em algo a ser edificado, e não à toa, em questões passadas e até mesmo encerradas que eu insisto em remoer.
Então elegi quatro questões gritantes que estão me perturbando, e coloquei o foco nelas como meta: (1) Acabar com as minhas dívidas até dezembro. (2) Investir na entrada ao mestrado. (3) Aproximar-me de algumas pessoas (alguns amigos, parentes e minha afilhada, principalmente). (4) Distanciar-me do Jeferson, já que no momento a amizade só está atrapalhando.
Mais tarde (poucas semanas depois) descobri que não estava tratando estas questões como meta, mas simplesmente como um desejo. E que, como eu disse, não se trata de organizar minha vida, é bem mais profundo: trata-se de uma autorreformulação (o que remete a estabelecer novas bases, além de uma mudança estrutural de hábitos – talvez não seja tão complexo).
Mas considerando que as quatro questões postas realmente precisam ser trabalhadas, escolhi investir minha energia no tratamento delas. Partindo do princípio de que para ter resultados diferentes é preciso fazer diferente, exponho como lidarei com cada uma destas questões:
1- DÍVIDAS - Ao mesmo tempo em que quero acabar com minhas dívidas, estou gastando ainda mais (com coisas que nem gastava antes, como baladas e afins). Além de gastar, as baladas me roubam o tempo que eu preciso para estudar, para me concentrar na segunda questão, que é investir na entrada do mestrado.
2- MESTRADO – estudar, estudar e estudar. Isto não será tão difícil, porque eu gosto e estou acostumada. A única coisa que atrapalha é a ansiedade, e o desespero de me enclausurar em casa pensando que lá fora o mundo acontece enquanto eu estudo. Mas de qualquer forma, até em razão das dívidas, o recolhimento é essencial.
3- APROXIMAÇÃO DAS PESSOAS – difícil é me afastar do convite do costumeiro. Até penso em diferentes possibilidades de lazer, de visitar velhos amigos, de me aproximar de algumas pessoas legais da minha família, mas eu não invisto nisto. Não sei o porquê. Claro que tudo isto também envolve dinheiro. Então esta questão vai ficar meio no “banhomaria”, a espera de oportunidades, não vou investir tanto nisto agora.
4- EX-MARIDO – nem preciso dizer que é o tópico mais difícil, que me rouba mais energia. Tem semanas que o sentimento ameniza, tem semanas que intensifica. Às vezes é saudade, outras vezes raiva, outras, desesperança, desânimo, luto... O sentimento nunca é de paz. Ao invés de me distanciar, sempre o procuro para novas interpretações dos fatos, para amizade, para sexo, para conversas que quase nunca me envolvem. Tenho como meta me afastar, o que não significa sumir. Por mais que seja desesperador pensar nele, sem tentar investigar se está tudo bem, sem tentar fazer com que ele assuma erros passados, ou perceba o quanto fui legal, boa amiga, boa amante, vou me esforçar. Primeiramente, comprometo-me a não mais ficar com ele. Pretendo me respeitar de verdade, o que é bem diferente de simplesmente dizer que eu me respeito.
Percebi que estas questões pairam sobre o desejo de transpô-las, mas esta transposição não se efetiva simplesmente por falta de atitude, por eu direcionar minha energia para o local errado. Sendo assim, vou experimentar seguir o exposto acima, vou concentrar minhas energias unicamente nisto: esquecer o que já passou e avançar para o que está a minha frente.