terça-feira, 11 de maio de 2010

Tenho cérebro, mas me falta o fígado...

Eu poderia dizer também: tenho cérebro, mas não “entranhas“. Só preferi o fígado (órgão que na Grécia Antiga era sinônimo de coragem) porque ele é o órgão mais sensível do meu organismo (piadas à parte... não me perguntem o porquê). Claro que esta analogia serve só para poetizar o fato de que não adianta ter inteligência se perdemos a conexão com a profundidade dentro de nós, o que nos impede de sentir a escolha certa. “Muitas pessoas”  vivem a vida inteira negando o óbvio, por estarem assustadas demais, perdem a fé na vida e em si e engolem a mordida amarga da existência. O tempo passa, a idade aumenta os medos. Possivelmente ficamos mais maduros, mas também sem experiência prática de pular no escuro e acreditar que podemos sobreviver.
Então passamos a machucar o fígado (rsrsrs) e “amantados” por raciocínio justificamos qualquer coisa. Com “boas razões” cobre-se a simples falta de peito para encarar a única escolha decente que se tem na vida. Acostumados a “fechar os olhos”, chegamos a não abri-los mais (“De que adianta, afinal, se não podemos dizer o que pensamos? Tanto vale não ver.”).
É claro que estou falando de relacionamentos... Justifico: se racionalmente mantemos os nossos valores, na prática, o que acontece é que devemos calar o que realmente pensamos porque simplesmente ou calamos ou nos mandamos da relação. Ponto. Cala um dia, cala dois dias, cala três meses, cala quatro anos… no que vai dar isso? Por mais boa vontade que se tenha, é psicologicamente impossível não tornar-se cúmplices daquilo que rejeitaríamos se não houvesse vínculos - a convivência é o maior elemento de “convencimento” de uma pessoa.
Para mim, a opção mais certa é afastar-se, muito ou pouco (o que não significa necessariamente sumir). Manter distância é uma forma de dizer “discordo”. Infelizmente, às vezes é o único jeito de comunicar o que pensamos – é o que faz com que a pessoa em questão recorde que há outros mundos, outros valores e outras possíveis escolhas de vida. Nossa voz é fraca quando o pecado está encardido demais. Mas tranqüilo, desde que conscientemente e racionalmente  saibamos que não tem como não sermos afetados pelo convívio com outras pessoas, e que (con)viver é uma escolha nossa – escolha que fazemos, claro, com todas as razões do MUNDO, e causas nobres, como a de amar alguém que seria melhor perder que encontrar.
Aqui entra o fígado: por razões totalmente hipócritas, eu encharco de afetuosidade a máquina da relação para passar por situações difíceis... e quanto mais espinhosa for a realidade mais eu utilizo deste método para suavizar com os óleos aromáticos da sedução afetiva o ambiente duvidoso no qual eu deito confortavelmente. E sei que não será assim que terei coragem para dar nomes aos bois e reconhecer o que é errado, nem é assim que terei atrevimento para agir de acordo. Antes, preciso da força viril de saber enfiar a faca quando é preciso, porque há momentos em que uma cirurgia é a única salvação. Óleos aromáticos não vão poder tratar do que simplesmente é podre.

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